Author: Sônia Ramalho de Farias
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Diverso, mas não plural: reconfigurações de um Brasil mestiço em Ariano Suassuna em cotejo com Gilberto Freyre.


Em consonância com certa tendência dominante no sistema intelectual brasileiro, cuja figura exponencial no século XX é Gilberto Freyre, o ideário armorial de Ariano Suassuna pensa a diversidade cultural brasileira sob o prisma da identidade nacional. Esta se configura pela concepção de um Brasil cadinho que reúne “harmônica” e conciliadoramente os três segmentos étnicos constitutivos de nossa formação social: o índio, o negro e o europeu, elementos emblemáticos e definidores da sua concepção de brasilidade, a brasílica nação castanha.
Na obra do sociólogo pernambucano o viés interpretativo da nação brasileira assenta-se numa visão otimista do país, que busca não só rever as teorias racistas e positivistas do séc. XIX, das quais as concepções ambíguas de Silvio Romero acerca da miscigenação1 ainda são devedoras, como pretende redimensionar a perspectiva de alguns autores seus contemporâneos, sobretudo nas décadas de 1920 a 1940, cuja análise, centrada no foco político, avaliava negativamente a colonização portuguesa e a mestiçagem da população brasileira, atribuindo-lhes a responsabilidade “pelos resultados pouco elogiáveis e pela situação secundária do país no cenário das nações”, conforme ressalta Mª Stella Bresciani (In CHIAPPINI E BRESCIANI (orgs): 2002, p. 39). A orientação sócio-antropológica assumida pelo ideário regionalista de Freyre busca, assim, modernizar as premissas orientadoras daquela visão ressentida e pessimista da história brasileira, contrapondo “[...] às teses da má formação do Brasil ou da incompleta definição de sua população a tese de que o país constituiria a mais acabada expressão da vitoriosa possibilidade de se fundar uma civilização nos trópicos” (BRESCIANI In CHIAPPINI E BRESCIANI (orgs): 2002, p.39). Para isso é necessário repensar os fundamentos da nossa colonização, reinterpretando a formação sociocultural brasileira com ênfase na família patriarcal como seu núcleo fundador e redimensionando positivamente a categoria de mestiçagem como amálgama étnico e categoria social em torno da qual, desde o século dezenove, se elabora a construção de uma mítica e decantada identidade nacional, símbolo conotador das “aspirações nacionalistas que se ligam à construção de uma nação brasileira”, no dizer de Renato Ortiz (1985, p.2).
Como já tive a oportunidade de demonstrar em outros escritos (cf. FARIAS. In JOACHIM (org.): 2003, p. 229-240 e FARIAS: 2006), para Freyre a nação brasileira luso-tropical alicerça-se na ideologia cordial asseguradora de uma convivência democratizante entre os três povos que constituem o fundamento da nossa nacionalidade. Esta se delineia pelas inter-relações regionais, raciais e culturais através das quais concebe a nação brasileira, definida pelos “impulsos tropicalizantes” que imprimem sua marca nas diversificadas manifestações artísticas que teriam sido produzidas sob a égide do ideário regionalista expresso no Movimento Regionalista de Recife, na década de 20, conforme explicita em “O movimento Regionalista, tradicionalista e, ao seu modo, modernista do Recife” (FREYRE, 1976, p. 15-16). Fundamentados na defesa dos valores regionais do Nordeste, e mais especificamente do locus patriarcal açucareiro, esses impulsos movem-se, no dizer do autor, no sentido de neutralizar a excessiva subordinação a modelos alienígenas, visando à integração conciliadora das diversas tradições culturais oriundas das diferentes raças responsáveis pela formação da nacionalidade brasileira, mediante “a reinterpretação, a interpretação e a utilização de motivações e de motivos brasileiros, regionais, tropicais que dessem vigor ecológico e visão ecológica das relações do homem com o ambiente regional (FREYRE: 1976, p. 16).
Transpondo, por meio de tais impulsos tropicalizantes, o cromatismo da paisagem brasileira, em especial, da nordestina e dos motivos regionais, para a arte, o autor estende a coloração dos trópicos à sua população. Formula, assim, seu critério de miscigenação étnico-cultural, postulando uma desejável correspondência entre a “tropical ‘vária cor’” da arquitetura recifense (ameaçada, segundo ele, de descaracterizar-se pelo processo de modernização do país) e a “‘vária cor’ de uma população panbrasileira crescentemente miscigenada, e, no Nordeste miscigenadíssima. Morena em vários graus conforme as misturas de sangue, no Nordeste tão abrangentes: juntando aos sangues dos indígenas com que se vinham misturando os europeus desde os começos do século XVI, os sangues negros” (FREYRE, 1976: 35). A partir desse conceito de miscigenação, Gilberto Freyre postula a formação de uma democracia no Brasil: “uma democracia sem privilégios raciais. Através de uma miscigenação abrasileirante ao mesmo tempo que democratizante. Metaracial” [sic] (FREYRE, 1976: 35).
As interpretações do processo de colonização e formação da sociedade brasileira passam a ser filtradas, sobretudo em Casa grande e senzala (1933), por essa concepção democratizante, alicerçada na ideologia da cordialidade. Ela constitui a base para que o autor pense “ternamente” as relações entre senhores e escravos no Brasil colonial, amortecendo, assim, via semântica da confraternização e seus correlatos lingüísticos - harmonização, contemporização e equilíbrio de antagonismos – (cf. FREYRE, 1978, p. 53 54)2 a violência da ação colonizadora no Nordeste escravocrata. Funciona também para ressaltar os efeitos positivos decorrentes do “caráter híbrido” da sociedade brasileira. Nessa perspectiva, o discurso do hibridismo desse intérprete da ordem patriarcal do país não é, ao contrário do que acreditam alguns de nossos ensaístas, nem plural nem polifônico. Não se define como plural porque apaga, pela afirmação da contemporização entre a cultura adventícia e a nativa, entre o branco europeu e o negro e o indígena, as marcas da alteridade e dos conflitos étnico-culturais vivenciados no cenário do Brasil colônia.3. Nem como polifônico porque é enunciado por uma voz que – não obstante dê abertura para a inclusão do outro atribuindo positividade à categoria de miscigenação, identifica-se, não sem oscilações e ambigüidades, à voz do patriarcalismo rural canavieiro, revisitado no contexto de crise que assinala o processo de modernização do país e a conseqüente perda de hegemonia da classe senhorial açucareira. A enunciação discursiva da mestiçagem brasileira aponta, assim, nas malhas textuais de Gilberto Freyre para uma concepção apenas aparentemente plurívoca, mas de fato, unificadora da nossa diversidade, moldando-a numa concepção reducionista e estática de identidade: “uma identidade que anula e subordina a diferença cultural”, nos termos de Stuart Hall (2002, p.59).
A identidade nacional reconfigurada pelo Movimento Armorial de Suassuna, a partir dos anos setenta (mas embrionariamente presente na obra do autor desde suas primeiras peças e entremezes, na década de 40), mantém o eixo estruturador do discurso cordial de Freyre. De forma análoga a este, Ariano pensa a questão da cordialidade como elemento mediador da história brasileira, interpretando-a também pela valoração positiva conferida ao conceito de miscigenação. Desloca, no entanto, o locus regional privilegiado pelo autor de Casa grande e senzala. Tal deslocamento pressupõe o privilégio concedido ao espaço regional do Nordeste pecuário-algodoeiro, o sertão, em contraposição ao Nordeste açucareiro, distinguido no discurso de Freyre como cerne dos autênticos valores nacionais. A reconfiguração do espaço regional pelo dramaturgo do Auto da Compadecida em relação à matriz discursiva freyriana não desconstrói, no entanto, os pressupostos estéticos e ideológicos norteadores da visão de Brasil e de realidade regional do sociólogo de Apipucus. Apenas assinala o lugar sociocultural de onde fala o romancista: o lugar da oligarquia sertaneja em confronto com o segmento regional da classe oligárquica da cana-de-açúcar recortado no discurso de Gilberto Freyre. A delimitação distintiva deste “outro Nordeste” - para utilizar aqui o título da obra de Djacir Menezes (1937) – hegemonicamente configurado no ideário regionalista e na produção literária de Ariano, vem explicitada pela dicção galhofeira do narrador-potagonista, Quaderna, no segundo romance da ainda inconclusa trilogia, História do rei degolado nas caatingas do sertão: ao sol da onça caetana, em diálogo com um dos seus mestres e interlocutores ficcionais, Samuel Wandernes, o “fidalgo dos engenhos”, cujas concepções acerca do espaço regional do Nordeste coincidem com as de Gilberto Freyre:

Aqui para nós, nobres Senhores e belas Damas que me ouvem: eu acho essas cavilações de Samuel a respeito dos “oiôs” e “Sinhazinhas, sobre os bolos e as baixelas da “civilização do açúcar”, um tanto ou quanto ridículas. Eu quero, lá, o Sertão parecido com essas coisas invocadas! O sertão é bruto, despojado e pobre, mas para mim, é exatamente isso o que faz dele o Reino! [...]. Outros que escrevam sobre a Burguesia rural do açúcar, travestida em ‘nobreza’ pelos títulos comprados ao do Segundo Império ( SUASSUNA: 1977, p.65).


As variações conceituais detectadas no discurso regionalista dos dois intérpretes do Brasil, Ariano Suassuna e Gilberto Freyre, confluem, no entanto, no que diz respeito à hegemonia concedida à região nordestina, em contraposição ao Centro-Sul do país. Coincidem igualmente na noção de autenticidade articulada à tradição do Nordeste e às manifestações culturais populares da região. Nivelam-se na atribuição de um conceito unívoco de identidade nacional por meio do qual pensam a nação brasileira. E, finalmente, como já foi apontado antes, apresentam-se similares no critério de miscigenação mediado pelo discurso da cordialidade, sem questionar os contornos definidores desta noção fechada e fixa de nacionalidade, atrelada a um espaço geográfico, econômico e sociocultural recortado dicotomicamente por suas respectivas concepções de Brasil.
O Brasil miscigenado e castanho configurado no ideário armorial e na ficção de Suassuna é definido através das duas linhagens que identifica como raízes definidoras de nossa cultura - a linhagem barroca, de origem ibérica, recriada popularmente no Nordeste, e a linhagem propriamente popular, identificada, sobretudo, nas manifestações artísticas e literárias da região nordestina (cf. SUASSUNA:1969). A estas linhagens se juntam os conceitos de raça, cultura, região e nobilitação que permeiam suas concepções estético-ideológicas acerca da unidade nacional. Como afirma o narrador-protagonista no Romance d’A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai e volta (1971), explicitando no seu “estilo-régio” e na sua simbologia armorialista o projeto literário perseguido por ele dentro do romance, sintomaticamente análogo ao do próprio romancista: “Meu sonho é fundir os Fidalgos guerreiros e cangaceiros, como Sinhô Pereira e Jorge de Albuquerque Coelho, com os Fidalgos negros e vermelhos do Povo, fazendo uma Nação de guerreiros e Cavalheiros castanhos, e colocando esse povo da Onça-Castanha no poder! (SUASSUNA: 1976, p.214-215). Essa síntese integradora entre as manifestações culturais populares e os símbolos nobiliárquicos da heráldica, que reúne as concepções aparentemente díspares e contraditórias dos seus dois mentores intelectuais, Clemente e Samuel, defensores respectivamente da mitologia negro-tapuia e dos valores lusófilos da colonização ibérica, vem teoricamente explicitada no texto do Movimento Armorial:
A unidade nacional brasileira vem do Povo, e a Heráldica popular está presente, nele, desde os ferros de marcar bois e os autos dos Guerreiros do Sertão, até as bandeiras das Cavalhadas e as cores azuis e vermelhas dos Pastoris da Zona da Mata. Desde os estandartes de Maracatus e Caboclinhos, até as Escolas de Samba, as camisas e as bandeiras dos Clubes de futebol do Recife ou do Rio (SUASSUNA, 1974: 11).

Subentende-se na explicitação do conceito de unidade nacional de Ariano, formulado pela junção não problematizada do popular e do erudito, do “povo” transfigurado nobiliarquicamente pelos símbolos emblemáticos da heráldica, uma concepção, não só do conceito de povo e de cultura popular, mas também da noção de identidade, que se pode classificar - tomando de empréstimo os termos empregados por Silviano Santiago (2006, p.35) noutro contexto – como “indivisa, indecomponível e não fragmentária”. A idéia do popular e de suas manifestações culturais como expressão indivisa do todo nacional, ecoa em outro texto não ficcional de Suassuna, por meio de um discurso avaliatório que busca legitimar o popular, dimensionando o seu valor estético pela sua inserção na totalidade da nação brasileira: “A arte popular aqui e a arte do povo , do ‘quarto estado’. É de notar que às vezes essa arte alcança qualidade: isso ocorre principalmente quando o ‘quarto estado’ não se encontra dissociado do resto do povo, mas praticamente exprime uma unidade nacional” (SUASSUNA, 1963 – grifos nossos).
A representação romanesca dessa identidade nacional na Pedra do Reino é conduzida por um discurso especular, o do narrador-protagonista, Dom Pedro Dinis Ferreira-Quaderna, que busca refletir mítica e mimeticamente a imagem desse Brasil cadinho e miscigenado, assumindo ele próprio a sua condição de mestiço. Para isso assinala sua dupla ascendência: a paterna, constituída pela linhagem dos “caboclos” e “cabras sertanejos” do reduto messiânico da Pedra do Reino, os Ferreira-Quaderna, e a materna, os Garcia-Barreto, família originária dos engenhos de açúcar de Pernambuco, radicada posteriormente na Paraíba. Ou seja, a linhagem dos “gentis-homens”, descendentes dos fidalgos ibéricos, cujo tronco remonta à figura legendária de Dom Sebastião. Surge dessa dupla linhagem, as quais o narrador se empenha em reconstituir para atestar seu direito ao “trono do Império do Brasil”, o sebastianismo castanho de Quaderna.
As configurações isomórficas entre os valores miscigenados da pátria e a genealogia castanha do narrador reatualizam uma das variações da máxima popular, tal pai, tal filho, asseguradora da consangüinidade e da transmissibilidade das características hereditárias da família patriarcal brasileira em determinadas vertentes da nossa produção literária naturalista/neonaturalista, segundo já mostrou Flora Sussekind (1984). A atualização dessa máxima no romance, asseguradora da correspondência entre essa representação do país mestiço e o texto que o representa, “tal Brasil, tal romance”, justifica a demanda literária do narrador Quaderna em busca de um gênero, a epopéia, que, configurando-se como a “Obra do Gênio da Raça”, “completa, modelar e de primeira classe” (SUASSUNA: 1976, p.147), seja a “cristalização da nacionalidade brasileira” (SUASSUNA:1976, p.274).
A tessitura narrativa d’A Pedra do Reino, que igualmente reduplica, noutro movimento especular do texto, a demanda literária perseguida pelo narrador, também se quer um romance-epopéico. Sua temática e técnica narrativa se constroem por analogia ao projeto traçado pelo postulante a romancista, Quaderna: “[...] eu ergueria meu Castelo, fazendo de ‘folheto em romance e de romance em folheto’ uma espécie de Sertaneida, Nordestíada ou Brasiléia, parecida com a do Senador Augusto Meira”( SUASSUNA: 1976, p.185 – grifos do autor). Caracterizando-se, ainda de forma análoga ao projeto de Quaderna, como “súmula da literatura brasileira”, o romance de Suassuna busca incorporar, no próprio processo de composição da literatura erudita, o imaginário popular do sertão, abrindo-se para a heterogeneidade de vozes que compõem o substrato estético e cultural do Nordeste: o cordel, as manifestações do folclore nordestino, a tradição do romanceiro medieval, juntamente com as formas épicas das novelas de cavalaria. Todas essas vozes e esse vasto material intertextual, no entanto, não eclodem autonomamente no processo narrativo. São filtrados pela centralidade da voz do sujeito da enunciação, que se encarrega de selecionar, pontuar, comentar e interpretar para os demais personagens e, sobretudo, para o leitor, através de constantes intervenções e digressões teóricas, as formas de expressão ligadas à elaboração artística do romance, acrescentando-lhes uma significação suplementar. O crivo do narrador, que revê e filtra a pasteriori os acontecimentos narrados e os encaixes narrativos, manipulando ao seu bel prazer e ao sabor de seus interesses os textos de que se apropria e a pluralidade do material disposto no livro, revela a presença de um sujeito solar uno e indivisível (LIMA: 2000, p. 84; 230-231 e LIMA: 2006)4, que se caracteriza pela centralidade da perspectiva narrativa, funcionando como guia do leitor e mestre da leitura. Na condição de condutor do relato, Quaderna neutraliza, via retórica da conciliação e substrato mítico, as concepções regionalistas/ nacionalistas divergentes dos outros dois intérpretes do Brasil com quem dialoga na cena textual, Clemente e Samuel, apaziguando as tensões e clivagens acerca dos complexos temas centrais articulados às diferentes noções de brasilidade e identidade nacional, de popular e erudito, que permeiam suas discussões acerca da “Obra do Gênio da Raça”. A univocidade solar desse sujeito enunciativo, alimentada mnemonicamente pelo lastro memorialista da voz autoral5, constrói-se por similaridade ao sol do sertão, imagem privilegiada na representação mitopoética, armorial e cavaleiresca do Nordeste pecuário –algodoeiro e da utopia do “Quinto Império do Sertão”, idealizada pelo narrador protagonista via travestimento feudal.
O rápido cotejo aqui empreendido entre o ideário regionalista de Gilberto Freyre e o ideário armorial de Ariano Suassuna, a partir do conceito de miscigenação que permeia suas respectivas representações de um Brasil cadinho luso-tropical busca, interdisciplinarmente, iluminar o diálogo entre duas vertentes discursivas distintas e situadas em etapas conjunturais diferentes no contexto histórico do país, entrecruzando as vozes da historiografia e da ficção. Oferecendo-se, pelo recorte diferenciado do espaço regional que privilegiam, como contrapartrida ideológica decorrente daquilo que Francisco de Oliveira (1981: p. 52) denomina “dialética de oposição” entre os dois Nordestes, ambas as vertentes convergem, no entanto, conforme procurou-se aqui demonstrar, no que diz respeito à representação unívoca e coesa de uma identidade nacional costurada pelo viés da cordialidade e pelo olhar da tradição.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CANDIDO, Antonio. Introdução In ROMERO, Sílvio. Teoria, crítica e história literária. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos: São Paulo, EDUSP, 1978.
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FARIAS, Sônia Lúcia Ramalho de. Mitos do Brasil cordial: do tema do “homem cordial” à ideologia da cordialidade: Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre e Ariano Suassuna. In JOACHIM, Sébastien (org). O espaço-tempo em ciências sociais. Anais CAPES-COFECUB. Recife: UFPE, p.229-240.

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LIMA, Luiz Costa. Mímesis: desafio ao pensamento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
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_____.História. Ficção. Literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.


MENEZES, Djacir O outro Nordeste: ensaio sobre a evolução social e política do Nordeste da “civilização do couro” e suas implicações históricas nos problemas gerais. 2. ed. Rio de Janeiro: Artenova, 1970.

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SUASSUNA, Ariano Romance d’a pedra do reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta; romance armorial-popular brasileiro. 4 ed. Rio de janeiro: José Olympio, 1976.

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SÜSSEKIND, Flora. Tal Brasil, qual romance? Rio de Janeiro: Achiamé, 1984.

1 Em Sílvio Romero a ambigüidade (tida por alguns críticos como contradição – Contradições é justamente o título atribuído na época por Laudelino Leite a um livro de sua autoria sobre o polêmico autor de História da Literatura Brasileira) se traduz na adaptação para o Brasil da teoria da civilização como mestiçagem, de Gobineau, compreendendo o mestiço simultaneamente como elemento diferenciador da cultura e etnia brasileiras, face ao colonizador português , portanto símbolo de uma identidade nacional, e como fator degenerativo da raça branca européia, conforme as concepções vigentes no séc. XIX, acerca da desigualdade racial. Ver a propósito a Introdução de Antônio Candido (In ROMERO, 1978 p.ix-xxx), que busca entender as oscilações conceituais de Silvio Romero à luz da “dialética peculiar da sua obra”.
2 Uma análise detalhada dessa semântica através do exame das metáforas culinárias utilizadas por Gilberto Freyre para caracterizar certa “intimidade fraternal” entre senhores e escravos, principalmente os dedicados ao serviço doméstico na casa grande, e para assinalar o “caráter híbrido” da sociedade brasileira, responsável, segundo o autor (FREYRE, 1978, p.5), pela “quase reciprocidade cultural” e pelo “máximo de contemporização” da cultura adventícia do colonizador com a nativa, encontra-se em FARIAS. In JOACHIM (org): 2003, p. 229-240.
3 Não deixa de ser sintomático o fato de que na literatura brasileira pós-independência ou pós-colonial, para usar um termo caro aos Estudos Culturais, mas às vezes utilizado anacronicmente em relação ao contexto brasileiro, o conflito racial é sempre tematizado pelo discurso amoroso, a exemplo de Iracema (1870). Como bem notou Silviano Santiago (2002, p.xxi,), relacionando à lenda de Alencar outras obras situadas em momentos distintos da produção literária brasileira, Ilha da maré (1705), de Botelho de Oliveira, O cortiço (1890), de Aluísio de Azevedo e Grabiela, cravo e canela (1958), de Jorge Amado, “essa tematização do possível conflito entre as duas etnias, através do erotismo dos personagens, visa a explicar a união cordial dos antagonismos pela cópula”.
4 Tanto em Mímesis desafio ao pensamento, como em História. Ficção. Literatura, Costa Lima vem perseguindo a configuração desse sujeito solar, atrelando-o a uma concepção clássica e cartesiana de mímesis, entendida como “subproduto reiterador do que já estava na cena do mundo”. Concepção esta que, segundo ele, seria responsável na modernidade pelas teorias desconstrutivistas pós-nietzschianas que, associando a mímesis a um dos modos de representação emanados deste sujeito solar decretam a morte do sujeito e vêem com desconfiança os conceitos de mímesis e representação. Problematizando tal entendimento de mímesis, o autor utiliza o conceito de “representação-efeito”: aquela que, embora se engendre ainda no sujeito, “a maneira de resposta afetiva ante fenômenos e acontecimenos”, desvincula-se da concepção de sujeito unitário e solar e articula-se à concepção de sujeito fraturado (cf.LIMA: 2000, p. 230-231).
5Tanto na ficção como na poesia do autor, a metáfora solar e seus correlatos apontam para a intersecção de três figuras de capital importância na imagética armorial do autor: as figuras da divindade, do pai e do rei, que alimentam o projeto literário d’A Pedra do Reino, como já foi demonstrado por mim e numa análise mais minuciosa do romance (cf. FARIAS: 2006).
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